terça-feira, 11 de agosto de 2009

A GANJA E O RASTA

Queridos irmãos,
Que o Senhor ilumine nossos pensamentos, abençoe o pão nosso de cada dia e nos fortaleça na caminhada ao Monte.



Deus, Jah Rastafari, nos deu o poder de decidir o caminho de nossas vidas através de nossos atos.
Portanto, ao fazer mal a um irmão estará optando pelo caminho errado e aquilo que lhe é merecido.
Mas se, ao contrário, fizer o bem, terá sido eleito um guerreiro no caminho do Senhor e este lhe retornará em dobro.


Jamais serei convicto de que Nosso Senhor, Rei dos Reis, Leão Conquistador nos tenha dito que o caminho para alcançá-lo não seja pela oração, pela fé, mas pelo consumo de alguma substância.

O assunto que segue é bastante complexo.

Todavia, por se tratar de uma substância ilícita em nosso país, onde usa-la ou defender seu uso (fazer apologia) constitui crime.

Sendo assim, após uma breve explicação de como originou-se o consumo da ganja no rastafarianismo, postarei uma reportagem cujo título é: “Deixe Acender”, uma publicação da REVISTA METRÓPOLE. Onde, o uso da ganja e a comparação com outras culturas que utilizam ervas em atos ritualísticos são explorados como ponto focal, deixando o canal de comentários aberto para que todos debatam sobre o assunto.



Um pouco de história

O uso rasta da maconha vem do início do Rastafarismo ou Garveysmo. Em 1941 um dos primeiros pregadores do rastafari, Leonard P. Howell, assentou uma comunidade de 1600 rastas. Esta Comunidade foi chamada Pinnacle.
Em Pinnacle, Howell plantou Maconha como agricultura sustentável. Foi neste momento que os Rastas descobriram as propriedades da ganja.
Usaram-na como alimento, remédio, vestimento e como fumo, pois acreditavam ser um canalizador no processo de aproximação com Jah.
Os Rastas que, em sua grande maioria, sempre foram tenazes leitores das Escrituras Sagradas foram fundo na Bíblia e encontraram muitas referências, do que dizem ser, o uso da Planta Sagrada.
Desta maneira a ganja foi incorporada na Cultura Rastafari.


“Deixe Acender”, uma publicação da revista da REVISTA METRÓPOLE # 6 (Salvador – Bahia) – www.revistametropole.com.br

Desde 1996, quando o Conselho Federal de Entorpecentes (Confen) liberou o uso ritualístico das plantas alucinógenas utilizadas pelos adeptos de religiões de origem indígena, os seguidores da religião Rastafari, que usam a "maconha" como instrumento de culto religioso, aguardam o mesmo privilégio. À época, o Confen, em pouco mais de dois meses, organizou um comitê interdisciplinar de pesquisa - composto por juristas, psiquiatras, psicólogos, sociólogos e antropólogos - que analisou o contexto do uso do chá de daime e retiraram o vegetal da lista de drogas ilícitas do Ministério da Saúde.21 anos depois, os Rastafaris aguardam do Confen o mesmo tratamento.
"Existe a forma Rastafari de usar (maconha) e a forma que as outras pessoas usam" , explica Kamarphew Tawá, sobre a utilização da cannabis sativa dentro do movimento que Bob Marley ajudou a popularizar com sua música. O cantor e líder da Associação Cultural Aspiral do Reggae (Acareggae), localizada no terceiro andar de um velho casarão no Pelourinho (salvador/BH), fala com desenvoltura sobre o histórico de segregação sofrido pelos adeptos da doutrina originária da África. Na cultura Rastafari a utilização da maconha é feita de forma distinta do que se vê por aí. A começar pelo plantio da erva, que é algo de fundamental importância no culto. É o contato com a terra, e a terra é Jah (Deus), é o contato com Jah", elucida o Rastaman.
A ganja - como chamam a cannabis - utilizada no ritual rasta deve ser a mais pura possível, de preferência cultivada pelos próprios seguidores do movimento. Tawá lembra que os adeptos da filosofia Rastafari não consomem outro tipo de substância psicoativa ou considerada droga - lícita ou não. "Nem mesmo haxixe (derivado concentrado da maconha) a gente usa", esclarece.
Num culto semelhante ao rastafariano, realizado pelo união do vegetal (UDV) e pelo Santo Daime, ambas as religiões de origem xamânica, também se faz uso de uma substância psicoativa ou enteogênica em suas celebrações. Trata-se da ayahuasca - nome de origem quechá que significa "cipó dos espíritos". Conhecida também como vegetal, daime ou, simplesmente, hoasca, a bebida sacramental é feita de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó Banisteriopsis Caapi (chamado pelos sectários da UDV de "mariri" e pelos adeptos do Santo Daime de "jagubi") e as folhas do Psicortia Viridis (entre os udvistas conhecida como "chacrona" e pelos daimistas apelidade de "rainha"). A infusão, que náo é proibida, demora horas para ficar pronta, e é considerada uma das realizações etnobotânicas mais significativas das culturas indígenas.
Na cultura Rastafari e nas religiões ayahuasqueiras, o objetivo da utilização da substância enteogênicas é o mesmo, segundo o professorEdward Mcrae, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA (Universidade Federal da Bahia). "Todas, a seus modos, buscam conectar-se com o divino", afirma. Com doutoramento em Antropologia pela USP (Universidade de São Paulo), onde estudou a utilização de substâncias psicoativas dentro das religiões, McRae já assinou manifesto defedendo o uso da maconha para fins medicinais, e é eminentemente a favor de sua utilização cerimonial. "Eu considero a proibição uma afronta ao direito religioso das pessoas. A gente tem que respeitar o sentimento religioso de cada um. Ele daz parte da humanidade, conclui.
Apesar dos semelhantes propósitos e da origem natural comum das substâncias utilizadas nos cultos citados, a forma como a Justiça e a sociedade brasileira tratam cada uma das situações é bem diferente. Enquanto aos rastas nunca foi dada a chance de provar que a utilização da ganja em seus rituais tem um fim estritamente religioso, aos ayahuasqueiros, quando foi necessário, tal oportunidade não tardou em ser concedida.
Em 1985, quando a Divisão de Medicamentos do Ministério da Saúde (Dimed) incluiu, em caráter proibitivo, o Banisteriopsis caapo na lista de substâncias entorpecentes, udvistas, daimistas e demais seitas que faziam uso cerimonial da substância recorreram ao Confen. Pediram que o órgão examinasse o uso ritual do cipó mariri/jagubi, o que foi prontamente atendido.
O uso da ayahuasca doi liberado, porém com a recomendação de que seu uso seja restrito aos rituais sagrados, advertindo o Confn ainda, através da Deliberação 24.08.92, um possível reexame da matéria cso surjam fatos novos a sua utilização.
Diferentemente da maconha, encontrada com relativa facilidade pelas ruas da cidade, as substâncias da ayahuasca demandaram cuidadosa apuração da reportagem para chegar à sua única referência fora dos templos da UDV: a barraquinha de folhas e ervas Filha Donas das Águas, mantida há 20 anos na Feira de São Joaquim.
Para o professor McRae, somente a UDV faz plantio da folha e do cipó alucinógenos na Bahia. "Normalmente as pessoas têm de trazer lá da Amazônia. Aqui, só a UDV faz o plantio, mas eles são extremamente cuidadosos, plantam só para o uso deles mesmos", acredita.
Enquanto isso, independentemente do modo como conseguem a cannabis, o consumo da erva pelos rastamen em seus rituais religiosos continua ilegal. Engana-se quem pensa que o motivo para os adeptos do rastafarianismo não terem os mesmos direitos dos ayahuasqueiros é a falta de representatividade político-social dos rastas.A sétima edição do seminário "QUal a importância de ser Rastafari na Bahia", ocorrido em maio, prova isso. O evento teve apoio de sindicatos e vereadores - entre eles, o presidente da Câmara de Salvador, Valdenor Cardoso - e contou com patrocínio do Governo Federal e da Prefeitura de Salvador. Ao que parece, o que pesa mesmo nesta questão pe o preconceito de uma sociedade hipócrita que admite: tomar um chá para falar com Deus, pode. Fumar unzinho para falar com Jah, não.

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